Muita coisa ficou para explicar…
Mas recomendo!!!
Percorro a calçada fria da cidade. As ruas alinhadas, as esquinas da espera.
Revejo-me em olhares, em gestos, em sons.
Perco-me nas gargalhadas que oiço, nos sussurros que sonho. Imagino serem aquelas as minhas mãos, ser meu o corpo que abraça.
Oiço o apelo da cidade e deixo-me ir. Há muito que a amo, há muito que a sinto em mim.
Nas janelas, as gotas da chuva demoram-se chamando para o interior quem nelas se reflete. Cá fora cruzam-se vidas em busca de um reflexo…
O relógio marca um tempo já longo e o frio anuncia o chegar da noite. A cidade veste-se de inverno, veste-se de esperança. Em cada esquina partilham-se vidas. Partilham-se sonhos.
Tinhas saudades tuas. Saudades de me perder em ti. Gosto de voltar e saber que manténs o sorriso, que nada mudou entre nós…
Quero tanto, mas tanto… ver isto ao vivo!
E só assim de repente lembro-me de alguém que até já foi mais do que uma vez e não convidou 😉
Há quem passe toda uma vida em função dos outros. Dos seus gostos, dos seus apetites, dos seus balanços.
Há quem gaste toda uma vida em busca de se encontrar em outro alguém.
Somos mais que um reflexo no espelho. Muito mais…
Somos o nosso próprio caminho.
Um filme de Radu Mihaileanu, com Alexei Guskov e Mélanie Laurent.
Uma obra que encontra na simplicidade a busca pela perfeita harmonia.
Não ganhou o Globo de Ouro para melhor filme estrangeiro, mas pode ser que ganhe o Óscar. Quanto a mim, comprarei o DVD e a banda sonora…
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor…,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.Adeus.Eugénio de Andrade
Dói-me a minha ausência. O meu silêncio.
Dói-me o custo dos dias, a imensidão das incertezas.
Dói-me a coragem a emergir do fundo.
Fernando Alvim
Há partilhas que se devem fazer, momentos a reter…
Deveria ter sido apenas uma surpresa a uma princesa mas foi muito mais do que isso!
Recomendo vivamente este espectáculo!!
Le Grand C, na Culturgest…
o amor é lançar um beijo ao vento e saber que tem destino,
é o que faz da distância um salto de duende,
é o eu estar aqui a dizer que gosto de ti…
José Jorge Letria
Tive dúvidas sobre se algum dia voltaria a escrever aqui. A voracidade dos dias, a vida citadina e agitada fizeram-me acelerar os meus próprios pensamentos (deixando quase de os escutar)… Depois de um ano de sobrevivência, de um ano de desafio e lutas constantes, vieram as tréguas… Foram momentâneas. Demasiado…
Dias depois da penúltima publicação veio uma onda, e outra, e outra, e mais uma. E eu mergulhei. Mergulhei para poder respirar, mergulhei para poder prosseguir.
Disseram-me uma vez que não era suposto deixar-me levar pela corrente. Que era suposto lutar pelo meu rumo. Mesmo que para isso tivesse de atravessar um revolto leito numa canoa danificada. Disseram-me uma vez que o triunfo estava do outro lado, numa praia… Numa fogueira… Disseram-me uma vez que no outro dia… No outro dia era preciso continuar a caminhar.
E eu caminhei.
Levo comigo a canoa, levo as pedras roladas pelas água. Levo comigo a brisa da praia, o quente da fogueira e as estrelas que a acompanhavam.
Levo comigo a certeza de que os rios foram feitos para atravessar, a certeza de que os caminhos foram feitos para trilhar.
Os dias passam e as memórias aglomeram-se em nós. Pedaços de histórias, de gentes… Pedaços de um outro tempo que nos fez sonhar. E há este tempo, o de agora. O tempo em que cada uma de nós se tornou mulher. E se falo em mulher é em todos os sentidos, em todas as suas formas. Somos o resultado do que vivemos, do que sempre, mal ou bem, partilhámos.
É que neste caminho que cruzámos, que trilhámos, relembro partilhas tão profundas, risos tão genuínos, que dificilmente os conseguirei traduzir aqui.
Tornaste-te naquilo que realmente sempre foste, ainda que te procurasses: numa brisa de mar numa quente tarde de primavera. No teu sorriso levas o mundo, nas tuas mãos as danças de outrora. Ao teu redor permanecem aqueles que te amam, porque dificilmente se conseguem afastar. És responsável por aquilo que cativas. E se cativas…
É um privilégio poder partilhar contigo a tua, a minha, a nossa vida.
Admiro-te publicamente.
Amo-te profundamente.
Ontem perguntaram-me se podiam saber de mim por aqui… Há muito que isso deixou de acontecer.
Entretanto vieram castelos na areia e marés que os destruíram. Vieram ondas e brisas, vieram desilusões.
E agora caminho. Caminho como quem recolhe conchas à beira-mar. Caminho como a quem falta a energia para pensar o que fazer a seguir. E desejo… Desejo profundamente poder fechar os olhos e deixar-me ir. Desejo ver um barco ao fundo e poder seguir nele.
E enquanto desejo que me dêem a mão, não consigo abrir a minha…
Lembram-se de ter dito que queria ver o trabalho do sean penn?
Estou um caco…
Gosto de cafonés. Gosto de abraços. Gosto de sorrir. Gosto de bons dias logo pela manhã. Gosto de mãos. Gosto de olhar. Gosto de aprender. Gosto de conquistar. Gosto de olhar o mar. Gosto de gaivotas no ar. Gosto de sentir a música a entrar pelos ouvidos. Gosto da serra. Gosto de fogueiras. Gosto do quente. Gosto de sentir o sol na pele. Gosto de caminhar por trilhos. Gosto de desbravar. Gosto de partilhar. Gosto de me dedicar. Gosto de brincar com baldes de grão e feijão. Gosto de me deitar cansada. Gosto de acordar quando quero. Gosto de falar. Gosto de ler. Gosto de livros infantis. Gosto de boas ilustrações. Gosto de ensinar. Gosto de me organizar. Gosto de surpreender. Gosto de ser surpreendida. Gosto de nadar despida. Gosto de não ter marcas do sol na pele. Gosto de brincar com os meus anéis. Gosto de conduzir com e sem destino. Gosto de relógios. Gosto de viajar. Gosto da Europa. Gosto de café. Gosto de chávenas. Gosto dos Pastéis de Belém. Gosto de queijadas. Gosto de séries. Gosto de verde alface, de laranja, de roxo. Gosto de fotografar. Gosto de enviar postais e cartas. Gosto de os receber. Gosto de longas conversas. Gosto de tolerância. Gosto de pedidos de desculpa. Gosto de sexo. Gosto de gostar. Gosto de dizer que gosto de ti. Gosto…
“Vem por aqui” – dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
– Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
– Sei que não vou por aí!
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